segunda-feira, 30 de julho de 2012

SOBRE PAIXÃO E POLÍTICA

        A política antes de ser uma ciência é uma arte, e como arte requer uma certa dose de paixão, de imaginação, de devaneio. Contudo, estas doses tem de ser regadas com o rigor da racionalidade, para que não descambemos para o fanatismo, para a crença desmedida, para a sandice, a neurose ou até mesmo a loucura. Ou no mínimo, para que não passemos ridículo em público. Mas, ao que parece, a paixão toma conta e cega a quase totalidade dos partidários neste período de campanha eleitoral. E como todo ser apaixonado só vêm, leem, sonham com aquilo que querem, o objeto de sua paixão. Não importa o que se diga, o que se fale, o que se mostre, a paixão já tomou conta de corações e mentes. E como, nós, seres humanos, nos prestamos ao ridículo quando estamos apaixonados. Esta é uma fase maravilhosa de nossas vidas, somos levados a fazer qualquer coisa, qualquer despautério. Não importa o que nos digam ou o quanto nos tentem recobrar à consciência. Estamos apaixonados. Na maioria das vezes o ser para o qual miramos a nossa paixão nem é lá essas coisas todas. Mas, aos nossos olhos é um principe ou uma princesa encantados. Fantasiamos sua imagem, miramos nele apenas os nosso desejos e as mais doces e belas fantasias. É neste estado que os partidários da maioria dos partidos políticos e de seus candidatos se encontram. E olhe que ainda não chegamos nem ao estágio mais avançado da paixão. No entanto, só espero que quando recobrarem a consciência não façam o que todos os apaixonados sempre fazem e dizem: foi por isso que me apaixonei, foi apenas por isto que tanto me dei. Se bem que, desconfio que o sentimento de alguns não seja paixão, mas amor reprimido, uma certa frustração por um amor não correspondido. Ai é que caímos mesmo no ridículo. Um amor não correspondido, frustrado, uma paixão reprimida pelo candidato opositor. Para alguns esta parece ser a melhor explicação, o nome do adversário viceja nas suas bocas, de dia a noite. Comem, dormem, acordam, sonham com o adversário. Acredito que está virando até obsessão. Periga votarem até no mesmo no dia 7 de outubro próximo.

A morte como último ato para eternização do Mito: o Mito Ronaldo...

          Morre Ronaldo Cunha Lima: o último ato para a construção de um mito, o mito fundador de Campina Grande.
         Morreu Ronaldo Cunha Lima. Começa a construção do mito Ronaldo Cunha Lima. Mito fundante e fundador da história recente de Campina Grande. A comoção que ora irmana "campinenses" e "paraibanos", ronaldistas ou maranhistas, cassistas ou ricardistas, venezistas ou ribeiristas, como se diferenças políticas não houvesse. Mas, este é apenas um dos tijolos que palmilham a construção do mito Ronaldo. Como o será, também, o velório sob a pirâmide, lócus fundante da Campina contemporânea, marco fundador da cidade festiva, cosmopolita inventada pela estratégia política posta em ação no mandato de Ronaldo em 1982. Um lócus que ao mesmo tempo que cristaliza este marco fundador, se coloca também como espaço aberto para receber "toda a cidade" em comoção para velar o "pai" do Maior São João do Mundo, a festa que é sua encarnação e carnação do mito da cidade Grande, do qual Ronaldo sempre se colocou como um dos principais artífices, senão o pai fundador, em especial na sua versão festiva. É mais uma forma de ligar Ronaldo ao parque,  mas não só a ele e sim, também, de forma definitiva, ao Maior São João do Mundo e a própria cidade, a medida que a pirâmide e Parque tornaram-se seu mausoléu na memória coletiva e histórica da própria cidade. 
          Contribui também para a formação do mito o próprio momento de sua morte, ao final do período junino e princípio da campanha política para prefeito e vereador deste ano. Um mito que fecha um ciclo e inicia um outro. Um mito que certamente será usado em proveito da candidatura Cunha Lima para a prefeitura de Campina Grande, um mito que emerge num momento fundamental do cenário político paraibano, onde as oligarquias locais, em especial a Cunha Lima, encontram-se alijadas dos centros decisórios do poder local e estadual. É a construção de um mito com forte apelo político, uma peça da estratégia Cunha Lima para a manutenção dos seus lugares de poder pelos próximos anos em Campina Grande e na Paraíba. É neste sentido que vai ser construída a eternidade de poeta para Ronaldo...Um poeta que se eterniza não pela palavra, mas pelas ações da sua linhagem em busca da manutenção do poder político local e estadual.

A AMIZADE COMO ESTILO DE VIDA

De todos os afetos o mais terno e o mais sincero, o mais despretensioso, o mais gratuito, o mais generoso, talvez seja a amizade. A amizade como modo de vida, como estilo de viver todas as relações, com gratuidade, com generosidade, com sinceridade, com ternura e certa despretensão. Compartilhando e conquistando, compartilhando e seduzindo, compartilhando e fazendo amigos, para nos tornar amigos. Amigos que, como um bom amigo certa vez me ensinou, nos acolhem sempre com um gesto de carinho, mesmo na crítica mais dura e sincera, pois a crítica sincera é a base de toda amizade. Por que ser amigo é ser indispensável, mas como este velho amigo me ensinou, não só pelos elogios que nos possamos fazer, mas pelas críticas, pelos reparos, pelas broncas amorosas que nos podem - e podemos e devemos - fazer, pela fala carinhosa que nos retifica e corrige, que nos faz pensar, que nos faz rever nossas certezas e relativizar nossas verdades (ALBUQUERQUE JR. 2007). A amizade como o outro que nos relativiza e nos constitui diferente de nós, como um espelho diferencial de nós mesmos. Um amigo como espelho outro de nós mesmos, com quem (com)partilhamos angústias, alegrias, dramas, tramas, amores, dissabores, paixões. Aos amigos, com carinho, com amor, com paixão, não só hoje, mas em todos os dias, em todos os momentos, em todas as relações, sempre, relações de amizade. De amigo para amigo.

A PRODUÇÃO DA VERDADE EM TEMPOS DE INTERNET

           A guerra em torno da produção da verdade nas sociedades ocidentais sempre foi encaniçada. No entanto, nestes tempos de rede mundial de computadores ela ganha contornos jamais vistos. A verdade não se diz mais, tão somente, a partir da autoridade de quem fala e dos critérios e regras de validação utilizados para a sua produção. A verdade nestes tempos está muito mais ligada a velocidade, a instantaneidade de sua anunciação e circulação do que propriamente relacionada a qualquer outro critério. Ela têm de ser instantânea, tem de ser confundida com o próprio "fato" a que remete, pela velocidade de sua produção e circulação, não há mais uma fissura de espaço-tempo a rasurar a relação palavra/fato, um quer se dizer no outro ou um se diz no outro, sem a possibilidade de fratura entre ambos. A verdade se diz "ao vivo", ou pelo menos, é assim que os novos lugares de produção da mesma tentam fazer crer aos ouvidos e, sobretudo, aos olhos mais desavisados. 
         E esta é outra característica deste novo regime de produção da verdade, ele é mais visual que auditivo, tactil, olfativo. Ele se dá por imagens, na tela de um computador, de um tablet, de um iphone, de um celular e, ainda, nos televisores. E neste processo, a verdade de tão veloz que circula, torna-se descartável, uma produção de verdades em cascata, em que uma verdade rapidamente sucede a outra, numa clara tentativa de nos imergir numa verdade mais permanente, mais duradoura, garantida pela vertigem causada pela velocidade de sua produção. Uma verdade parindo outra, uma verdade dentro da outra gestando um mundo de simulacros, onde é cada vez mais difícil distinguir o que é atual e o que virtual.

EXERCÍCIO DE LIBERDADE E PRÁTICAS DEMOCRÁTICAS

              Vivemos numa sociedade que se quer democrática e livre a partir dos princípios estabelecidos por um Estado Democrático de Direito. Neste sentido, ao meu ver, democracia e liberdade não podem ser tomados como conceitos universais e absolutos, mas tão somente como exercícios, como práticas relativas e limitadas por determinadas contingências e situações históricas dadas. Assim, a prática da democracia e o exercício da liberdade em nossa sociedade, nos dias atuais, está contingenciada por um Estado Democrático de Direito que estabelece como limites para o exercício da liberdade individual e das práticas democráticas justamente as práticas democráticas e o exercício da liberdade do outro ou dos outros, ou pelo menos é assim que deveria ser.
              É neste contexto que precisamos entender e situar alguns debates caros ao nosso tempo e a nossa sociedade como, por exemplo, as discussões em torno dos conceitos de liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdade religiosa e de culto. Conceitos estes, muitas vezes, colocados sob o mesmo signo e sob a mesma rubrica, principalmente quando se quer usá-los para a defesa, justificação e legitimação de interesses corporativos, sobretudo, de cunho econômico, religioso e político.
            Viver em uma sociedade livre e democrática não significa dizer que temos o direito de tudo ddizer, expressar e defender, como alguns querem nos fazer crer. Não é por que temos, teoricamente, o direito a liberdade de expressão que podemos sair por aí nos pronunciando em defesa, por exemplo, de valores racistas, nazistas e/ou facistas. Não podemos, por exemplo, nos utilizar de nosso direito a liberdade religiosa e de culto para legitimar, justificar e defender práticas homofóbicas, machistas, preconceituosas, retrógradas ou até mesmo para incitar a violência contra quem quer que seja. Até por que liberdade religiosa e de culto não pode ser confundida com liberdade de expressão, com a liberdade de tudo poder dizer. Em especial quando este poder dizer busca legitimar condutas religiosas retrógradas, medievais que põem muito mais em xeque o exercício da liberdade e a prática da democracia do que os defendem e estimulam. Pois, pautados em princípios obscurantistas, autoritários e tidos como absolutos. Princípios estes que não aceitam a divergência e, por consequencia, a diferença e o diferente, a não ser como outro a que se nega e ao qual se tenta converter e reduzir ao mesmo.
          Uma sociedade livre e democrática pressupõe justamente a possibilidade da diferença e da existência do diferente, não como condição ontológica, como universal, mas como prática, como exercício. E esta, infelizmente, ainda vem sendo negada em nossa sociedade. E o que é mais grave, com muitos utilizando os conceitos de liberdade de expressão e liberdade religiosa e de culto como justificativa para tais posturas. Isto tem se verificado, sobremaneira, entre alguns segmentos evangélicos, como o encabeçado pelo pastor Silas Malafaia, que tem se mostrado mais conservador e reacionário do que foi a Igreja no medievo, principalmente no trato de alguns temas como a homofobia.
           Mas, estas posturas reacionárias, conservadoras não são apenas privilégio de algumas denominações evangélicas. O é também de boa parte dos segmentos midiáticos de nosso país, em especial da mídia tradicional (jornais, revistas, TVs) que não perdem a oportunidade para tentar confundir a "opinião pública" vendendo e alardeando uma suposta sinonímia entre liberdade de imprensa e liberdade de expressão. Esta é a postura editorial adotada, por exemplo, pelas Organizações Globo, pela Editora Abril, pelo Grupo Folha e pelo Estadão. Estes grupos buscam emplacar esta construção com a clara intenção de tudo poder dizer, com o objetivo de não se encontrarem limitados por nenhuma lei ou exercício de liberdade e prática democrática em contrário. Estes meios de comunicação não enxergam o outro como seu limite, mas o observam como obstáculo a ser transposto ou a ser eliminado para que sua e somente sua liberdade de imprensa prevaleça como única expressão possível. Uma liberdade de imprensa que procura repercutir a sua fala como expressão da opinião eral, onde só poderia haver voz, fala nestes meios. Seus receptores e telespectadores não teriam direito ao contraponto, são vistos apenas como ouvidos mudos a receber o já dito e estabelecido. Neste sentido, para estas mídias, nada do que é dito, falado fora dos seus meios e influência é válido, muito pelo contrário, é um ruido que deve ser calado para que a repetição do mesmo se propague e se prolongue no vácuo deixado pelo exercício das vozes plurais, que hoje ecoam, principalmente, da internet.
         São estas práticas, emanadas tanto dos meios religiosos quanto midiáticos, que o exercício de liberdade e as práticas democráticas de nosso tempo devem combater e confrontar com urgência e veemência, sob pena de voltarmos a ser tutelados por uma liberdade e por uma democracia de fachada, mesmo ditas e definidas como universais, mas que ao fim e ao cabo impedem o exercício daquela e a prática desta, à medida que buscam eliminar a diferença e extinguir o outro aravés de uma liberdade e uma democracia onde só seria possível e aceitável o mesmo.

O CREPÚSCULO DO FUTEBOL BRASILEIRO



Ao longo dos últimos anos estamos assistindo dois movimentos contrastantes no futebol brasileiro. De um lado, a transformação cada vez mais rápida do futebol brasileiro como um todo - não mais só os seus craques e bons jogadores - em um grande negócio, que movimenta milhões e milhões de dólares todos os anos. O faturamento de nossos principais times aumentou exponencialmente ao longo da última década. Cada vez mais eles têm se tornado marcas extremamente rentáveis, além de empresas esportivas para as quais o futebol jogado dentro das quatro linhas tem se tornado muito mais um detalhe do que propriamente o centro de seus interesses comerciais, por mais que seja o produto a venda. Desta forma o futebol ganhou uma centralidade da e na mídia, no e do marketing não apenas como entretenimento ou como símbolo social e paixão de multidões, mas, sobretudo, como um negócio, uma marca, um estilo de vida vendido sob o signo da saúde, do sucesso e, sobretudo, da grana, da fama e do glamour. Isto tem feito com que jogadores como Neymar sejam mais que meros atletas, mas, acima de tudo estrelas, artistas, garotos propaganda. Seus nomes são uma marca. Como o é R9, R10 e outros mais. Assim, eles propagandeiam e vendem um estilo de vida, que tem no futebol a sua ribalta.
Por outro lado, simultaneamente a este processo, o futebol jogado dentro de campo, no Brasil e pelos brasileiros, na seleção ou nos clubes que defendem, tem se mostrado cada dia mais pobre, pífio: de craques, de técnica, de futebol arte, alegre, ousado. Nosso futebol, assim como nossos jogadores estão cada dia mais burocráticos, mecânicos, previsíveis, tanto dentro quanto fora de campo. Comportamento padronizado, midiatizado, glamourizado. E isto se reflete na nossa Seleção nacional, que vem jogando um dos piores futebóis de todos os tempos. Uma Seleção que não mobiliza mais 190 milhões de torcedores irmanados na simbologia da pátria de chuteiras. Quando muito empolga a Globo e seus ventríloquos. Deixamos de ser o país do futebol, justamente no momento em que este se mercantiliza, se moderniza como reflexo das transformações sociais, políticas e econômicas que o país vem passando nos últimos anos. O futebol não é mais a única coisa que nos orgulha e nos dá alegrias, que nos irmana como brasileiros. Há, hoje, outros motivos para se comemorar, e o futebol, principalmente o jogado pela nossa Seleção, é cada vez menos um deles.
Ou seja, o futebol não é mais a nossa única alegria. Ou a alegria das classes populares. Nos últimos anos estas descobriram os shoppings centers, as compras, o consumo, as viagens, o carro novo, as festas de massa, os shows privados, etc. tudo isto se tornou acessível. O Brasil não é mais apenas o país do carnaval e do futebol. Apesar das tentativas do maior conglomerado midiático do país – as Organizações Globo – em continuar buscando preservar e vender estas imagens, muito mais como forma de perpetuar seus interesses econômicos e políticos do que propriamente por uma crença nestes símbolos.
Desta forma, nosso futebol vem se transformando numa grande farsa, numa encenação midiática que tem posto fim ao seu brilho “natural” de outrora. Craques produzidos pelo marketing e pela mídia que acreditam na fantasia que nossos comentaristas de futebol lhes contam e inoculam a cada programa esportivo. Não temos sequer um grande nome de destaque no futebol mundial, atualmente. O nome que temos é apenas uma promessa a nível internacional, um segundo “Robinho aspirante a quase Pelé”, se concretizando apenas como realidade no contexto do pobre – tecnicamente falando – futebol brasileiro e sul-americano, Neymar. Aquele que a Globo teima em vender como craque, como signo do futebol arte, ousado, moleque. Sonho produzido na e pelas mentes fantasiosas da mídia brasileira, um sonho no qual Neymar embarcou como criança mimada. Neymar é sim símbolo do futebol brasileiro, mas não deste futebol ao qual tentam associá-lo. Ele é símbolo do futebol brasileiro de hoje, é sua melhor expressão. Um futebol midiatizado, glamourizado, envolto e porpurinado pelo brilho do marketing, o que busca lhe conferir certo ar de modernidade, de inovação. Mas, contudo, cada vez mais mecânico, previsível, burocrático, padronizado na ginga e no estilo, dentro e fora de campo.
Este sonho começou a virar pesadelo quando certo baixinho argentino atravessou o sono em berço esplendido de nosso futebol, humilhando o Santos, justamente o Santos de Pelé do novo aspirante a ele, Neymar, na final do mundial de clubes. Uma pulga a incomodar nosso sono e a turvar nossos sonhos e fantasias de ainda sermos o melhor futebol do mundo. A nos mostrar como se joga futebol, a nos ensinar o que é futebol arte, criativo, ousado – matéria em que já demos as melhores aulas para o mundo. Grande ironia. Tragédia do futebol brasileiro. Admitir que não jogamos mais o melhor futebol do mundo, admitir que quem o faz, individualmente, é um argentino, este sim candidato a superar Pelé. Admitir que não somos mais a pátria de chuteiras, que nossa Seleção não nos irmana mais justamente quando, depois de anos, vamos sediar uma Copa do Mundo, não somos sequer um dos quatro maiores favoritos ao título. Tragédia ao quadrado, potencializada por um sem número de escândalos que envolvem a entidade máxima do futebol brasileiro, a CBF, e o seu mais longevo presidente, Ricardo Teixeira, recém-saído do cargo. Futebol cada vez mais submetido aos interesses da Globo e distante dos interesses daqueles que realmente o fizeram ser o que é: os jogadores, o torcedor, o povo, o brasileiro comum.
Infelizmente, estamos longe de uma nova aurora. Mesmo sabendo que o futebol jogado dentro das quatro linhas é imprevisível, apesar disto o crepúsculo do nosso parece querer perdurar por mais alguns anos ou ao menos não enxergo um horizonte menos escuro para o mesmo até a Copa de 2014; pois, infelizmente, nos dias de hoje, o futebol não se faz mais apenas dentro de campo. Este é apenas a cobertura do bolo, um detalhe.