Os umbrais de intolerância estão sendo postos
de pé em praticamente todas as esquinas de nossa sociedade. Talvez, em
nenhum outro momento da história eles parecem ter sido erguidos de forma
tão rápida e travestido de práticas ditas democráticas e em nome da
liberdade de expressão como agora. O direito ao livre pensamento não
significa direito a livre expressão e esta não é um valor absoluto que
pode ser traduzido como sinônimo de
democracia. Esta contempla outros valores, outros conceitos, todos eles
forjados nas lutas políticas cotidianas que constituem e instituem a
vida em sociedade.
Tomar por absolutos tais conceitos é negar ao nosso
mundo a capacidade de escolher, no embate das lutas e conflitos
cotidianos, não o melhor dos mundos, mas o mundo possível de se viver,
um mundo para o nosso tempo, um mundo para a nossa sociedade. Uma
sociedade cada vez mais plural, múltipla, constituída de diferenças e
que não se permite mais enquadrar pelas lentes do mesmo, do discurso
único, totalitário que tais umbrais pretendem erguer e tentam forçar
todos a atravessá-los, como se estivessem a defender O Bem, A Justiça e A
Verdade. Esquecem do fundamental, de que o absoluto é apenas mais uma
perspectiva, que na maioria das vezes, não tanto como conceito, mas,
sobretudo, como prática, fere a dignidade humana, violenta aquilo que
nos é mais humano, demasiado humano: a diferença que nos constitui.
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