Sempre acompanho o debate político em nosso
país com afinco e bastante cautela, principalmente aquele sustentado
pelos meios de comunicação de massa. Nestes últimos dias um assunto em
especial tem me chamado a atenção, qual seja: a eleição do pastor Marcos
Feliciano para presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Este tema me chama a atenção não pela eleição em si, mas pelos
argumentos utilizados pelos defensores
de sua postulação e, sobretudo, de sua assunção no cargo em questão. Um
dos argumentos mais utilizados é o de que vivemos em uma democracia e de
que a diversidade de opiniões devem ser respeitadas, inclusive as do
pastor Feliciano.
No entanto, suas opiniões e visão de mundo ferem
aquilo que Hannah Arendt chama de dignidade humana. Viver em uma
democracia não significa ter o poder de dizer tudo o que se quer e,
principalmente, pregar isto como profissão de fé e pedra angular de uma
verdade absoluta. A democracia não permite que em nome dela se faça
apologia da violência e do preconceito contra o que é humano, demasiado
humano. Tolerar - será que é possível tolerar o intolerável ? - um pensamento conservador não significa
permitir que ele se imponha como força de verdade sobre todo um
coletivo, sobretudo quando este pensamento é reacionário, retrógrado,
ultrapassado, fundamentado em preceitos e interpretações obscuras que
incitam a violência, a intolerância, a exclusão, a demonização, a
negação do outro, do diferente.
Dizer que os discursos e pronunciamentos
de Marcos Feliciano são aceitáveis, porque vivemos em democracia, é
compactuar com o que de mais nefasto às sociedades humanas já
produziram, é assumir uma postura facista, é dizer que se um Hitler
fosse possível no mundo de hoje - e infelizmente ele ainda parece ser
possível - suas opiniões e visão de mundo também seriam aceitáveis, pois
vivemos numa democracia. Antes de qualquer coisa uma democracia deve
ser um regime não apenas de governo, mas, sobretudo, de vida em
sociedade que problematize e lute contra qualquer ato, evento,
acontecimento que fira a dignidade humana e tente reduzir a diferença
que é inerente a esta condição ao autoritarismo da verdade absoluta,
seja ela de cunho político, religioso ou de qualquer outra vertente. Numa democracia não é possível tolerar o intolerável.
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