sexta-feira, 12 de abril de 2013

NÃO SE PODE TOLERAR O INTOLERÁVEL.

         Sempre acompanho o debate político em nosso país com afinco e bastante cautela, principalmente aquele sustentado pelos meios de comunicação de massa. Nestes últimos dias um assunto em especial tem me chamado a atenção, qual seja: a eleição do pastor Marcos Feliciano para presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Este tema me chama a atenção não pela eleição em si, mas pelos argumentos utilizados pelos defensores de sua postulação e, sobretudo, de sua assunção no cargo em questão. Um dos argumentos mais utilizados é o de que vivemos em uma democracia e de que a diversidade de opiniões devem ser respeitadas, inclusive as do pastor Feliciano. 
           No entanto, suas opiniões e visão de mundo ferem aquilo que Hannah Arendt chama de dignidade humana. Viver em uma democracia não significa ter o poder de dizer tudo o que se quer e, principalmente, pregar isto como profissão de fé e pedra angular de uma verdade absoluta. A democracia não permite que em nome dela se faça apologia da violência e do preconceito contra o que é humano, demasiado humano. Tolerar - será que é possível tolerar o intolerável ? - um pensamento conservador não significa permitir que ele se imponha como força de verdade sobre todo um coletivo, sobretudo quando este pensamento é reacionário, retrógrado, ultrapassado, fundamentado em preceitos e interpretações obscuras que incitam a violência, a intolerância, a exclusão, a demonização, a negação do outro, do diferente.
         Dizer que os discursos e pronunciamentos de Marcos Feliciano são aceitáveis, porque vivemos em democracia, é compactuar com o que de mais nefasto às sociedades humanas já produziram, é assumir uma postura facista, é dizer que se um Hitler fosse possível no mundo de hoje - e infelizmente ele ainda parece ser possível - suas opiniões e visão de mundo também seriam aceitáveis, pois vivemos numa democracia. Antes de qualquer coisa uma democracia deve ser um regime não apenas de governo, mas, sobretudo, de vida em sociedade que problematize e lute contra qualquer ato, evento, acontecimento que fira a dignidade humana e tente reduzir a diferença que é inerente a esta condição ao autoritarismo da verdade absoluta, seja ela de cunho político, religioso ou de qualquer outra vertente. Numa democracia não é possível tolerar o intolerável.

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