Impressiona como ao longo dos últimos anos
práticas e discursos fundamentalistas vem se espraiando por todos os
meandros de nossa sociedade. Quase sempre ancorados na ideia de que se
vivemos em um mundo democrático tudo é possível de ser dito e praticado,
alardeando assim uma concepção grotesca de democracia que tudo
permitiria e/ou possibilitaria. E, diante disto,
o que é mais estarrecedor é a postura intolerante que tem se tornado
característica de muitos. Pessoas que se aferram em suas opiniões, que
renunciam ao diálogo, a escuta do outro. Pessoas para quem suas
opiniões, sejam elas quais forem e a respeito do que for, se bastam.
Pessoas que se recusam a mudança, ao dissenso, ao contato com a
divergência, com a diferença, com o outro, sobretudo quando este outro
não é o seu espelho, quando este acusa a sua diferença e questiona a sua
suposta normalidade.
A frase típica destes fundamentalismos é a
seguinte: "esta é minha opinião, e pronto". "Não tente mudá-la, vivemos
numa democracia". A experiência dos fundamentalismos no nosso tempo
parece refletir a dificuldade e o estranhamento cada vez maior da
convivência com o outro, sobretudo com o humano no outro, em especial
quando este outro expõe, escancara nossos medos, nossas fraquezas,
nossas angustias e temores, quando este outro questiona radicalmente
aquilo que acreditamos ser. E isto tem se tornado patente principalmente
entre os jovens, que expressam cada vez mais uma recusa impressionante
em escutar o outro, em mudar seus posicionamentos, em aceitar a
divergência e a diferença em nós, em entender que um mundo democrático
se faz da divergência e não no aferramento radical a determinas
posições, no eu penso isso e você pensa aquilo e ponto final. No você
não tem o direito de querer mudar minha opinião, porque esta é minha
opinião e pronto. Neste sentido, nosso mundo parece padecer da falta de
experiência, tal como falava Walter Benjamim, que nos permite ser um
pouco mais sábios e ainda contemplar uma aura de tolerância em nós e nos
outros.