terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Mais uma vez sobre a violência de nossos dias.

              A cerca de dois ou três dias atrás um acontecimento chocou a sociedade paraibana. O estupro e a morte premeditada de duas jovens e  o estupro de mais outras três numa festa particular na cidade de Queimadas, por parte de jovens aparentemente de classe média, brancos, educados nos melhores colégios e pertencentes aquilo que os colunistas sociais costumam chamar de "sociedade". A consumação do fato - para utilizar uma linguagem policial - se deu de forma fria, premeditada, calculada, sordida, permeada por uma brutalidade e uma animalidade atroz e sem nenhuma motivação aparente, apenas a violência gratuita, pura e simples. Os instintos humanos aflorando da forma mais primitiva e selvagem - para usar alguns termos criados por nosso processo civilizador para nomear aqueles que nele ainda não se inseriram - possível. Mas, será mesmo? será apenas selvageria, barbárie, primitivismo ou será o uso racionlizado de nossas forças, de nosso intelecto para aquilo que há de pior no humano que nos tornamos? Não acredito que estamos nos embrutecendo, nos animalizado e que aqueles jovens sejam o exemplo cabal disso. Mas, antes, creio que eles e suas práticas nefastas são o produto mais bem acabado de nossa sociedade e de nossa cultura, são a expressão máxima de nosso tempo. Tempo este que vem naturalizando a violência e a sexo em todas as suas dimensões e sentidos, sem nenhum constrangimento, sem nenhuma culpa, sem nenhum pudor ou vergonha.
           O problema não é apenas de impunidade, de falta de educação, de carência de leis mais duras ou draconianas, da falta de código normativo que reestabeleça o olho por olho e o dente por dente. Estes acontecimentos não cessarão apenas com a correção ou aplicação de tais medidas. O estabelecimento da pena de morte não diminuirá o acontecimento destes fenômenos, muito pelo contrário, pois a pena de morte punibiliza apenas de forma diferenciada aquilo que já acontece a séculos, mas que não ganhava a dimensão e a publicidade que se observa nos dias que correm. Uma nova punição, mais dura, mais pesada, mais justa na visão de alguns, talvez aumentasse apenas a sensação de justiçamento na sociedade, mas não poria fim ao problema. Ao contrário, criaria outro, talvez mais atroz e mais brutal ainda, em especial na nossa sociedade, permeada que é por gritantes diferenças sociais e constituída por relações de poder e de força estremamente desiguais entre seus grupos constitutivos.
           É notório que o sentimento de indignação, de revolta, de impotência que toma de conta de grande parcela da sociedade diante de acontecimentos como estes. Mas, estes sentimentos não podem servir de esteio para discursos tão perversos quanto as práticas cometidas por aqueles ? - não sei que palavra usar, meu vocabulário não têm palavras para nomeá-los -, não podem servir de pretexto para reinvidicações autoritárias, para a exigência do estabelecimento de um legalismo facista que tem como horizonte o extermínio do outro e muito menos para reproduzir a cultura de nosso tempo, profundamente caracterizada pela banalização e naturalização da violência e do sexo. Nosso maior problema não são de falta de leis ou de punição. Nosso maior problema é de civilização, de cultura. Estamos descambando para o facismo, nas suas expressões mais vís, tanto individuais quanto coletivas, de forma cada ve mais racionalizada e parece que ninguém se dar conta.

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