A guerra em torno
da produção da verdade nas sociedades ocidentais sempre foi encaniçada.
No entanto, nestes tempos de rede mundial de computadores ela ganha
contornos jamais vistos. A verdade não se diz mais, tão somente, a
partir da autoridade de quem fala e dos critérios e regras de validação
utilizados para a sua produção. A verdade nestes tempos está
muito mais ligada a velocidade, a instantaneidade de sua anunciação e
circulação do que propriamente relacionada a qualquer outro critério. Ela têm de ser
instantânea, tem de ser confundida com o próprio "fato" a que remete,
pela velocidade de sua produção e circulação, não há mais uma fissura de
espaço-tempo a rasurar a relação palavra/fato, um quer se dizer no
outro ou um se diz no outro, sem a possibilidade de fratura entre
ambos. A verdade se diz "ao vivo", ou pelo menos, é assim que os novos
lugares de produção da mesma tentam fazer crer aos ouvidos e, sobretudo,
aos olhos mais desavisados.
E esta é outra característica deste novo
regime de produção da verdade, ele é mais visual que auditivo, tactil,
olfativo. Ele se dá por imagens, na tela de um computador, de um tablet,
de um iphone, de um celular e, ainda, nos televisores. E neste
processo, a verdade de tão veloz que circula, torna-se descartável, uma
produção de verdades em cascata, em que uma verdade rapidamente sucede a
outra, numa clara tentativa de nos imergir numa verdade mais
permanente, mais duradoura, garantida pela vertigem causada pela
velocidade de sua produção. Uma verdade parindo outra, uma verdade
dentro da outra gestando um mundo de simulacros, onde é cada vez mais
difícil distinguir o que é atual e o que virtual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário