segunda-feira, 30 de julho de 2012

O CREPÚSCULO DO FUTEBOL BRASILEIRO



Ao longo dos últimos anos estamos assistindo dois movimentos contrastantes no futebol brasileiro. De um lado, a transformação cada vez mais rápida do futebol brasileiro como um todo - não mais só os seus craques e bons jogadores - em um grande negócio, que movimenta milhões e milhões de dólares todos os anos. O faturamento de nossos principais times aumentou exponencialmente ao longo da última década. Cada vez mais eles têm se tornado marcas extremamente rentáveis, além de empresas esportivas para as quais o futebol jogado dentro das quatro linhas tem se tornado muito mais um detalhe do que propriamente o centro de seus interesses comerciais, por mais que seja o produto a venda. Desta forma o futebol ganhou uma centralidade da e na mídia, no e do marketing não apenas como entretenimento ou como símbolo social e paixão de multidões, mas, sobretudo, como um negócio, uma marca, um estilo de vida vendido sob o signo da saúde, do sucesso e, sobretudo, da grana, da fama e do glamour. Isto tem feito com que jogadores como Neymar sejam mais que meros atletas, mas, acima de tudo estrelas, artistas, garotos propaganda. Seus nomes são uma marca. Como o é R9, R10 e outros mais. Assim, eles propagandeiam e vendem um estilo de vida, que tem no futebol a sua ribalta.
Por outro lado, simultaneamente a este processo, o futebol jogado dentro de campo, no Brasil e pelos brasileiros, na seleção ou nos clubes que defendem, tem se mostrado cada dia mais pobre, pífio: de craques, de técnica, de futebol arte, alegre, ousado. Nosso futebol, assim como nossos jogadores estão cada dia mais burocráticos, mecânicos, previsíveis, tanto dentro quanto fora de campo. Comportamento padronizado, midiatizado, glamourizado. E isto se reflete na nossa Seleção nacional, que vem jogando um dos piores futebóis de todos os tempos. Uma Seleção que não mobiliza mais 190 milhões de torcedores irmanados na simbologia da pátria de chuteiras. Quando muito empolga a Globo e seus ventríloquos. Deixamos de ser o país do futebol, justamente no momento em que este se mercantiliza, se moderniza como reflexo das transformações sociais, políticas e econômicas que o país vem passando nos últimos anos. O futebol não é mais a única coisa que nos orgulha e nos dá alegrias, que nos irmana como brasileiros. Há, hoje, outros motivos para se comemorar, e o futebol, principalmente o jogado pela nossa Seleção, é cada vez menos um deles.
Ou seja, o futebol não é mais a nossa única alegria. Ou a alegria das classes populares. Nos últimos anos estas descobriram os shoppings centers, as compras, o consumo, as viagens, o carro novo, as festas de massa, os shows privados, etc. tudo isto se tornou acessível. O Brasil não é mais apenas o país do carnaval e do futebol. Apesar das tentativas do maior conglomerado midiático do país – as Organizações Globo – em continuar buscando preservar e vender estas imagens, muito mais como forma de perpetuar seus interesses econômicos e políticos do que propriamente por uma crença nestes símbolos.
Desta forma, nosso futebol vem se transformando numa grande farsa, numa encenação midiática que tem posto fim ao seu brilho “natural” de outrora. Craques produzidos pelo marketing e pela mídia que acreditam na fantasia que nossos comentaristas de futebol lhes contam e inoculam a cada programa esportivo. Não temos sequer um grande nome de destaque no futebol mundial, atualmente. O nome que temos é apenas uma promessa a nível internacional, um segundo “Robinho aspirante a quase Pelé”, se concretizando apenas como realidade no contexto do pobre – tecnicamente falando – futebol brasileiro e sul-americano, Neymar. Aquele que a Globo teima em vender como craque, como signo do futebol arte, ousado, moleque. Sonho produzido na e pelas mentes fantasiosas da mídia brasileira, um sonho no qual Neymar embarcou como criança mimada. Neymar é sim símbolo do futebol brasileiro, mas não deste futebol ao qual tentam associá-lo. Ele é símbolo do futebol brasileiro de hoje, é sua melhor expressão. Um futebol midiatizado, glamourizado, envolto e porpurinado pelo brilho do marketing, o que busca lhe conferir certo ar de modernidade, de inovação. Mas, contudo, cada vez mais mecânico, previsível, burocrático, padronizado na ginga e no estilo, dentro e fora de campo.
Este sonho começou a virar pesadelo quando certo baixinho argentino atravessou o sono em berço esplendido de nosso futebol, humilhando o Santos, justamente o Santos de Pelé do novo aspirante a ele, Neymar, na final do mundial de clubes. Uma pulga a incomodar nosso sono e a turvar nossos sonhos e fantasias de ainda sermos o melhor futebol do mundo. A nos mostrar como se joga futebol, a nos ensinar o que é futebol arte, criativo, ousado – matéria em que já demos as melhores aulas para o mundo. Grande ironia. Tragédia do futebol brasileiro. Admitir que não jogamos mais o melhor futebol do mundo, admitir que quem o faz, individualmente, é um argentino, este sim candidato a superar Pelé. Admitir que não somos mais a pátria de chuteiras, que nossa Seleção não nos irmana mais justamente quando, depois de anos, vamos sediar uma Copa do Mundo, não somos sequer um dos quatro maiores favoritos ao título. Tragédia ao quadrado, potencializada por um sem número de escândalos que envolvem a entidade máxima do futebol brasileiro, a CBF, e o seu mais longevo presidente, Ricardo Teixeira, recém-saído do cargo. Futebol cada vez mais submetido aos interesses da Globo e distante dos interesses daqueles que realmente o fizeram ser o que é: os jogadores, o torcedor, o povo, o brasileiro comum.
Infelizmente, estamos longe de uma nova aurora. Mesmo sabendo que o futebol jogado dentro das quatro linhas é imprevisível, apesar disto o crepúsculo do nosso parece querer perdurar por mais alguns anos ou ao menos não enxergo um horizonte menos escuro para o mesmo até a Copa de 2014; pois, infelizmente, nos dias de hoje, o futebol não se faz mais apenas dentro de campo. Este é apenas a cobertura do bolo, um detalhe.

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