A política antes de ser uma ciência é uma arte, e como arte requer uma
certa dose de paixão, de imaginação, de devaneio. Contudo, estas doses
tem de ser regadas com o rigor da racionalidade, para que não
descambemos para o fanatismo, para a crença desmedida, para a sandice, a
neurose ou até mesmo a loucura. Ou no mínimo, para que não passemos
ridículo em público. Mas, ao que parece, a paixão toma conta e cega a
quase totalidade dos partidários neste período de campanha eleitoral. E como todo ser apaixonado só
vêm, leem, sonham com aquilo que querem, o objeto de sua paixão. Não
importa o que se diga, o que se fale, o que se mostre, a paixão já tomou
conta de corações e mentes. E como, nós, seres humanos, nos prestamos ao
ridículo quando estamos apaixonados. Esta é uma fase maravilhosa de
nossas vidas, somos levados a fazer
qualquer coisa, qualquer despautério. Não importa o que nos digam ou o
quanto nos tentem recobrar à consciência. Estamos apaixonados. Na
maioria das vezes o ser para o qual miramos a nossa paixão nem é lá
essas coisas todas. Mas, aos nossos olhos é um principe ou uma princesa
encantados. Fantasiamos sua imagem, miramos nele apenas os nosso desejos e
as mais doces e belas fantasias. É neste estado que os partidários da maioria dos partidos políticos e de seus candidatos se encontram. E olhe que ainda não chegamos nem ao estágio mais
avançado da paixão. No entanto, só espero que quando recobrarem a
consciência não façam o que todos os apaixonados sempre fazem e dizem:
foi por isso que me apaixonei, foi apenas por isto que tanto me dei. Se
bem que, desconfio que o sentimento de alguns não seja paixão, mas amor
reprimido, uma certa frustração por um amor não correspondido. Ai é que
caímos mesmo no ridículo. Um amor não correspondido, frustrado, uma
paixão reprimida pelo candidato opositor. Para alguns esta parece ser a melhor
explicação, o nome do adversário viceja nas suas bocas, de dia a noite. Comem, dormem, acordam, sonham com o adversário. Acredito que está
virando até obsessão. Periga votarem até no mesmo no dia 7 de outubro próximo.
Este espaço tem como objetivo a publicação, divulgação e circulação de alguns experimentos historiográficos, literários, filosóficos, poéticos, jornalísticos, sociológicos, futebolísitcos etc, assim como se apresentar como espaço democrático - no sentido mais amplo desta palavra - para os mais variados assuntos e temas relevantes para a vida em sociedade. Sintam-se a vontade para entrar, ler, postar, comentar, discutir, debater, discordar, divergir, concordar, pensar... Sejam bem vindos.
segunda-feira, 30 de julho de 2012
A morte como último ato para eternização do Mito: o Mito Ronaldo...
Morre Ronaldo Cunha Lima: o último ato para a construção de um mito, o mito fundador de Campina Grande.
Morreu Ronaldo Cunha Lima. Começa a construção do mito Ronaldo Cunha Lima. Mito fundante e fundador da história recente de Campina Grande. A comoção que ora irmana "campinenses" e "paraibanos", ronaldistas ou maranhistas, cassistas ou ricardistas, venezistas ou ribeiristas, como se diferenças políticas não houvesse. Mas, este é apenas um dos tijolos que palmilham a construção do mito Ronaldo. Como o será, também, o velório sob a pirâmide, lócus fundante da Campina contemporânea, marco fundador da cidade festiva, cosmopolita inventada pela estratégia política posta em ação no mandato de Ronaldo em 1982. Um lócus que ao mesmo tempo que cristaliza este marco fundador, se coloca também como espaço aberto para receber "toda a cidade" em comoção para velar o "pai" do Maior São João do Mundo, a festa que é sua encarnação e carnação do mito da cidade Grande, do qual Ronaldo sempre se colocou como um dos principais artífices, senão o pai fundador, em especial na sua versão festiva. É mais uma forma de ligar Ronaldo ao parque, mas não só a ele e sim, também, de forma definitiva, ao Maior São João do Mundo e a própria cidade, a medida que a pirâmide e Parque tornaram-se seu mausoléu na memória coletiva e histórica da própria cidade.
Morreu Ronaldo Cunha Lima. Começa a construção do mito Ronaldo Cunha Lima. Mito fundante e fundador da história recente de Campina Grande. A comoção que ora irmana "campinenses" e "paraibanos", ronaldistas ou maranhistas, cassistas ou ricardistas, venezistas ou ribeiristas, como se diferenças políticas não houvesse. Mas, este é apenas um dos tijolos que palmilham a construção do mito Ronaldo. Como o será, também, o velório sob a pirâmide, lócus fundante da Campina contemporânea, marco fundador da cidade festiva, cosmopolita inventada pela estratégia política posta em ação no mandato de Ronaldo em 1982. Um lócus que ao mesmo tempo que cristaliza este marco fundador, se coloca também como espaço aberto para receber "toda a cidade" em comoção para velar o "pai" do Maior São João do Mundo, a festa que é sua encarnação e carnação do mito da cidade Grande, do qual Ronaldo sempre se colocou como um dos principais artífices, senão o pai fundador, em especial na sua versão festiva. É mais uma forma de ligar Ronaldo ao parque, mas não só a ele e sim, também, de forma definitiva, ao Maior São João do Mundo e a própria cidade, a medida que a pirâmide e Parque tornaram-se seu mausoléu na memória coletiva e histórica da própria cidade.
Contribui também para a formação do mito o próprio
momento de sua morte, ao final do período junino e princípio da campanha
política para prefeito e vereador deste ano. Um mito que fecha um ciclo
e inicia um outro. Um mito que certamente será usado em proveito da
candidatura Cunha Lima para a prefeitura de Campina Grande, um mito que
emerge num momento fundamental do cenário político paraibano, onde as
oligarquias locais, em especial a Cunha Lima, encontram-se alijadas dos
centros decisórios do poder local e estadual. É a construção de um mito
com forte apelo político, uma peça da estratégia Cunha Lima para a
manutenção dos seus lugares de poder pelos próximos anos em Campina
Grande e na Paraíba. É neste sentido que vai ser construída a eternidade
de poeta para Ronaldo...Um poeta que se eterniza não pela palavra, mas
pelas ações da sua linhagem em busca da manutenção do poder político
local e estadual.
A AMIZADE COMO ESTILO DE VIDA
De todos os afetos o mais terno e
o mais sincero, o mais despretensioso, o mais gratuito, o mais
generoso, talvez seja a amizade. A amizade como modo de vida, como
estilo de viver todas as relações, com gratuidade, com generosidade, com
sinceridade, com ternura e certa despretensão. Compartilhando e
conquistando, compartilhando e seduzindo, compartilhando e fazendo amigos,
para nos tornar amigos. Amigos que, como um bom amigo certa vez me
ensinou, nos acolhem sempre com um gesto de carinho, mesmo na crítica
mais dura e sincera, pois a crítica sincera é a base de toda amizade.
Por que ser amigo é ser indispensável, mas como este velho amigo me
ensinou, não só pelos elogios que nos possamos fazer, mas pelas
críticas, pelos reparos, pelas broncas amorosas que nos podem - e
podemos e devemos - fazer, pela fala carinhosa que nos retifica e
corrige, que nos faz pensar, que nos faz rever nossas certezas e
relativizar nossas verdades (ALBUQUERQUE JR. 2007). A amizade como o
outro que nos relativiza e nos constitui diferente de nós, como um
espelho diferencial de nós mesmos. Um amigo como espelho outro de nós
mesmos, com quem (com)partilhamos angústias, alegrias, dramas, tramas,
amores, dissabores, paixões. Aos amigos, com carinho, com amor, com
paixão, não só hoje, mas em todos os dias, em todos os momentos, em
todas as relações, sempre, relações de amizade. De amigo para amigo.
A PRODUÇÃO DA VERDADE EM TEMPOS DE INTERNET
A guerra em torno
da produção da verdade nas sociedades ocidentais sempre foi encaniçada.
No entanto, nestes tempos de rede mundial de computadores ela ganha
contornos jamais vistos. A verdade não se diz mais, tão somente, a
partir da autoridade de quem fala e dos critérios e regras de validação
utilizados para a sua produção. A verdade nestes tempos está
muito mais ligada a velocidade, a instantaneidade de sua anunciação e
circulação do que propriamente relacionada a qualquer outro critério. Ela têm de ser
instantânea, tem de ser confundida com o próprio "fato" a que remete,
pela velocidade de sua produção e circulação, não há mais uma fissura de
espaço-tempo a rasurar a relação palavra/fato, um quer se dizer no
outro ou um se diz no outro, sem a possibilidade de fratura entre
ambos. A verdade se diz "ao vivo", ou pelo menos, é assim que os novos
lugares de produção da mesma tentam fazer crer aos ouvidos e, sobretudo,
aos olhos mais desavisados.
E esta é outra característica deste novo
regime de produção da verdade, ele é mais visual que auditivo, tactil,
olfativo. Ele se dá por imagens, na tela de um computador, de um tablet,
de um iphone, de um celular e, ainda, nos televisores. E neste
processo, a verdade de tão veloz que circula, torna-se descartável, uma
produção de verdades em cascata, em que uma verdade rapidamente sucede a
outra, numa clara tentativa de nos imergir numa verdade mais
permanente, mais duradoura, garantida pela vertigem causada pela
velocidade de sua produção. Uma verdade parindo outra, uma verdade
dentro da outra gestando um mundo de simulacros, onde é cada vez mais
difícil distinguir o que é atual e o que virtual.
EXERCÍCIO DE LIBERDADE E PRÁTICAS DEMOCRÁTICAS
Vivemos numa
sociedade que se quer democrática e livre a partir dos princípios
estabelecidos por um Estado Democrático de Direito. Neste sentido, ao
meu ver, democracia e liberdade não podem ser tomados como conceitos
universais e absolutos, mas tão somente como exercícios, como práticas
relativas e limitadas por determinadas contingências e situações
históricas dadas. Assim, a prática da democracia e o exercício da
liberdade em nossa sociedade, nos dias atuais, está contingenciada por
um Estado Democrático de Direito que estabelece como limites para o
exercício da liberdade individual e das práticas democráticas justamente
as práticas democráticas e o exercício da liberdade do outro ou dos
outros, ou pelo menos é assim que deveria ser.
É neste contexto que precisamos entender e situar alguns debates caros ao nosso tempo e a nossa sociedade como, por exemplo, as discussões em torno dos conceitos de liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdade religiosa e de culto. Conceitos estes, muitas vezes, colocados sob o mesmo signo e sob a mesma rubrica, principalmente quando se quer usá-los para a defesa, justificação e legitimação de interesses corporativos, sobretudo, de cunho econômico, religioso e político.
Viver em uma sociedade livre e democrática não significa dizer que temos o direito de tudo ddizer, expressar e defender, como alguns querem nos fazer crer. Não é por que temos, teoricamente, o direito a liberdade de expressão que podemos sair por aí nos pronunciando em defesa, por exemplo, de valores racistas, nazistas e/ou facistas. Não podemos, por exemplo, nos utilizar de nosso direito a liberdade religiosa e de culto para legitimar, justificar e defender práticas homofóbicas, machistas, preconceituosas, retrógradas ou até mesmo para incitar a violência contra quem quer que seja. Até por que liberdade religiosa e de culto não pode ser confundida com liberdade de expressão, com a liberdade de tudo poder dizer. Em especial quando este poder dizer busca legitimar condutas religiosas retrógradas, medievais que põem muito mais em xeque o exercício da liberdade e a prática da democracia do que os defendem e estimulam. Pois, pautados em princípios obscurantistas, autoritários e tidos como absolutos. Princípios estes que não aceitam a divergência e, por consequencia, a diferença e o diferente, a não ser como outro a que se nega e ao qual se tenta converter e reduzir ao mesmo.
Uma sociedade livre e democrática pressupõe justamente a possibilidade da diferença e da existência do diferente, não como condição ontológica, como universal, mas como prática, como exercício. E esta, infelizmente, ainda vem sendo negada em nossa sociedade. E o que é mais grave, com muitos utilizando os conceitos de liberdade de expressão e liberdade religiosa e de culto como justificativa para tais posturas. Isto tem se verificado, sobremaneira, entre alguns segmentos evangélicos, como o encabeçado pelo pastor Silas Malafaia, que tem se mostrado mais conservador e reacionário do que foi a Igreja no medievo, principalmente no trato de alguns temas como a homofobia.
Mas, estas posturas reacionárias, conservadoras não são apenas privilégio de algumas denominações evangélicas. O é também de boa parte dos segmentos midiáticos de nosso país, em especial da mídia tradicional (jornais, revistas, TVs) que não perdem a oportunidade para tentar confundir a "opinião pública" vendendo e alardeando uma suposta sinonímia entre liberdade de imprensa e liberdade de expressão. Esta é a postura editorial adotada, por exemplo, pelas Organizações Globo, pela Editora Abril, pelo Grupo Folha e pelo Estadão. Estes grupos buscam emplacar esta construção com a clara intenção de tudo poder dizer, com o objetivo de não se encontrarem limitados por nenhuma lei ou exercício de liberdade e prática democrática em contrário. Estes meios de comunicação não enxergam o outro como seu limite, mas o observam como obstáculo a ser transposto ou a ser eliminado para que sua e somente sua liberdade de imprensa prevaleça como única expressão possível. Uma liberdade de imprensa que procura repercutir a sua fala como expressão da opinião eral, onde só poderia haver voz, fala nestes meios. Seus receptores e telespectadores não teriam direito ao contraponto, são vistos apenas como ouvidos mudos a receber o já dito e estabelecido. Neste sentido, para estas mídias, nada do que é dito, falado fora dos seus meios e influência é válido, muito pelo contrário, é um ruido que deve ser calado para que a repetição do mesmo se propague e se prolongue no vácuo deixado pelo exercício das vozes plurais, que hoje ecoam, principalmente, da internet.
São estas práticas, emanadas tanto dos meios religiosos quanto midiáticos, que o exercício de liberdade e as práticas democráticas de nosso tempo devem combater e confrontar com urgência e veemência, sob pena de voltarmos a ser tutelados por uma liberdade e por uma democracia de fachada, mesmo ditas e definidas como universais, mas que ao fim e ao cabo impedem o exercício daquela e a prática desta, à medida que buscam eliminar a diferença e extinguir o outro aravés de uma liberdade e uma democracia onde só seria possível e aceitável o mesmo.
É neste contexto que precisamos entender e situar alguns debates caros ao nosso tempo e a nossa sociedade como, por exemplo, as discussões em torno dos conceitos de liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdade religiosa e de culto. Conceitos estes, muitas vezes, colocados sob o mesmo signo e sob a mesma rubrica, principalmente quando se quer usá-los para a defesa, justificação e legitimação de interesses corporativos, sobretudo, de cunho econômico, religioso e político.
Viver em uma sociedade livre e democrática não significa dizer que temos o direito de tudo ddizer, expressar e defender, como alguns querem nos fazer crer. Não é por que temos, teoricamente, o direito a liberdade de expressão que podemos sair por aí nos pronunciando em defesa, por exemplo, de valores racistas, nazistas e/ou facistas. Não podemos, por exemplo, nos utilizar de nosso direito a liberdade religiosa e de culto para legitimar, justificar e defender práticas homofóbicas, machistas, preconceituosas, retrógradas ou até mesmo para incitar a violência contra quem quer que seja. Até por que liberdade religiosa e de culto não pode ser confundida com liberdade de expressão, com a liberdade de tudo poder dizer. Em especial quando este poder dizer busca legitimar condutas religiosas retrógradas, medievais que põem muito mais em xeque o exercício da liberdade e a prática da democracia do que os defendem e estimulam. Pois, pautados em princípios obscurantistas, autoritários e tidos como absolutos. Princípios estes que não aceitam a divergência e, por consequencia, a diferença e o diferente, a não ser como outro a que se nega e ao qual se tenta converter e reduzir ao mesmo.
Uma sociedade livre e democrática pressupõe justamente a possibilidade da diferença e da existência do diferente, não como condição ontológica, como universal, mas como prática, como exercício. E esta, infelizmente, ainda vem sendo negada em nossa sociedade. E o que é mais grave, com muitos utilizando os conceitos de liberdade de expressão e liberdade religiosa e de culto como justificativa para tais posturas. Isto tem se verificado, sobremaneira, entre alguns segmentos evangélicos, como o encabeçado pelo pastor Silas Malafaia, que tem se mostrado mais conservador e reacionário do que foi a Igreja no medievo, principalmente no trato de alguns temas como a homofobia.
Mas, estas posturas reacionárias, conservadoras não são apenas privilégio de algumas denominações evangélicas. O é também de boa parte dos segmentos midiáticos de nosso país, em especial da mídia tradicional (jornais, revistas, TVs) que não perdem a oportunidade para tentar confundir a "opinião pública" vendendo e alardeando uma suposta sinonímia entre liberdade de imprensa e liberdade de expressão. Esta é a postura editorial adotada, por exemplo, pelas Organizações Globo, pela Editora Abril, pelo Grupo Folha e pelo Estadão. Estes grupos buscam emplacar esta construção com a clara intenção de tudo poder dizer, com o objetivo de não se encontrarem limitados por nenhuma lei ou exercício de liberdade e prática democrática em contrário. Estes meios de comunicação não enxergam o outro como seu limite, mas o observam como obstáculo a ser transposto ou a ser eliminado para que sua e somente sua liberdade de imprensa prevaleça como única expressão possível. Uma liberdade de imprensa que procura repercutir a sua fala como expressão da opinião eral, onde só poderia haver voz, fala nestes meios. Seus receptores e telespectadores não teriam direito ao contraponto, são vistos apenas como ouvidos mudos a receber o já dito e estabelecido. Neste sentido, para estas mídias, nada do que é dito, falado fora dos seus meios e influência é válido, muito pelo contrário, é um ruido que deve ser calado para que a repetição do mesmo se propague e se prolongue no vácuo deixado pelo exercício das vozes plurais, que hoje ecoam, principalmente, da internet.
São estas práticas, emanadas tanto dos meios religiosos quanto midiáticos, que o exercício de liberdade e as práticas democráticas de nosso tempo devem combater e confrontar com urgência e veemência, sob pena de voltarmos a ser tutelados por uma liberdade e por uma democracia de fachada, mesmo ditas e definidas como universais, mas que ao fim e ao cabo impedem o exercício daquela e a prática desta, à medida que buscam eliminar a diferença e extinguir o outro aravés de uma liberdade e uma democracia onde só seria possível e aceitável o mesmo.
O CREPÚSCULO DO FUTEBOL BRASILEIRO
Ao longo dos
últimos anos estamos assistindo dois movimentos contrastantes no futebol
brasileiro. De um lado, a transformação cada vez mais rápida do futebol
brasileiro como um todo - não mais só os seus craques e bons jogadores - em um
grande negócio, que movimenta milhões e milhões de dólares todos os anos. O
faturamento de nossos principais times aumentou exponencialmente ao longo da
última década. Cada vez mais eles têm se tornado marcas extremamente rentáveis,
além de empresas esportivas para as quais o futebol jogado dentro das quatro
linhas tem se tornado muito mais um detalhe do que propriamente o centro de
seus interesses comerciais, por mais que seja o produto a venda. Desta forma o
futebol ganhou uma centralidade da e na mídia, no e do marketing não apenas
como entretenimento ou como símbolo social e paixão de multidões, mas,
sobretudo, como um negócio, uma marca, um estilo de vida vendido sob o signo da
saúde, do sucesso e, sobretudo, da grana, da fama e do glamour. Isto tem feito
com que jogadores como Neymar sejam mais que meros atletas, mas, acima de tudo
estrelas, artistas, garotos propaganda. Seus nomes são uma marca. Como o é R9,
R10 e outros mais. Assim, eles propagandeiam e vendem um estilo de vida, que
tem no futebol a sua ribalta.
Por outro lado,
simultaneamente a este processo, o futebol jogado dentro de campo, no Brasil e
pelos brasileiros, na seleção ou nos clubes que defendem, tem se mostrado cada
dia mais pobre, pífio: de craques, de técnica, de futebol arte, alegre, ousado.
Nosso futebol, assim como nossos jogadores estão cada dia mais burocráticos, mecânicos,
previsíveis, tanto dentro quanto fora de campo. Comportamento padronizado,
midiatizado, glamourizado. E isto se reflete na nossa Seleção nacional, que vem
jogando um dos piores futebóis de todos os tempos. Uma Seleção que não mobiliza
mais 190 milhões de torcedores irmanados na simbologia da pátria de chuteiras.
Quando muito empolga a Globo e seus ventríloquos. Deixamos de ser o país do
futebol, justamente no momento em que este se mercantiliza, se moderniza como
reflexo das transformações sociais, políticas e econômicas que o país vem
passando nos últimos anos. O futebol não é mais a única coisa que nos orgulha e
nos dá alegrias, que nos irmana como brasileiros. Há, hoje, outros motivos para
se comemorar, e o futebol, principalmente o jogado pela nossa Seleção, é cada
vez menos um deles.
Ou seja, o
futebol não é mais a nossa única alegria. Ou a alegria das classes populares. Nos
últimos anos estas descobriram os shoppings
centers, as compras, o consumo, as viagens, o carro novo, as festas de
massa, os shows privados, etc. tudo isto se tornou acessível. O Brasil não é
mais apenas o país do carnaval e do futebol. Apesar das tentativas do maior
conglomerado midiático do país – as Organizações Globo – em continuar buscando
preservar e vender estas imagens, muito mais como forma de perpetuar seus
interesses econômicos e políticos do que propriamente por uma crença nestes símbolos.
Desta forma, nosso
futebol vem se transformando numa grande farsa, numa encenação midiática que
tem posto fim ao seu brilho “natural” de outrora. Craques produzidos pelo
marketing e pela mídia que acreditam na fantasia que nossos comentaristas de
futebol lhes contam e inoculam a cada programa esportivo. Não temos sequer um
grande nome de destaque no futebol mundial, atualmente. O nome que temos é
apenas uma promessa a nível internacional, um segundo “Robinho aspirante a
quase Pelé”, se concretizando apenas como realidade no contexto do pobre –
tecnicamente falando – futebol brasileiro e sul-americano, Neymar. Aquele que a
Globo teima em vender como craque, como signo do futebol arte, ousado, moleque.
Sonho produzido na e pelas mentes fantasiosas da mídia brasileira, um sonho no
qual Neymar embarcou como criança mimada. Neymar é sim símbolo do futebol
brasileiro, mas não deste futebol ao qual tentam associá-lo. Ele é símbolo do
futebol brasileiro de hoje, é sua melhor expressão. Um futebol midiatizado, glamourizado,
envolto e porpurinado pelo brilho do marketing, o que busca lhe conferir certo
ar de modernidade, de inovação. Mas, contudo, cada vez mais mecânico,
previsível, burocrático, padronizado na ginga e no estilo, dentro e fora de
campo.
Este sonho
começou a virar pesadelo quando certo baixinho argentino atravessou o sono em
berço esplendido de nosso futebol, humilhando o Santos, justamente o Santos de
Pelé do novo aspirante a ele, Neymar, na final do mundial de clubes. Uma pulga
a incomodar nosso sono e a turvar nossos sonhos e fantasias de ainda sermos o
melhor futebol do mundo. A nos mostrar como se joga futebol, a nos ensinar o
que é futebol arte, criativo, ousado – matéria em que já demos as melhores
aulas para o mundo. Grande ironia. Tragédia do futebol brasileiro. Admitir que
não jogamos mais o melhor futebol do mundo, admitir que quem o faz,
individualmente, é um argentino, este sim candidato a superar Pelé. Admitir que
não somos mais a pátria de chuteiras, que nossa Seleção não nos irmana mais
justamente quando, depois de anos, vamos sediar uma Copa do Mundo, não somos sequer
um dos quatro maiores favoritos ao título. Tragédia ao quadrado, potencializada
por um sem número de escândalos que envolvem a entidade máxima do futebol brasileiro,
a CBF, e o seu mais longevo presidente, Ricardo Teixeira, recém-saído do cargo.
Futebol cada vez mais submetido aos interesses da Globo e distante dos
interesses daqueles que realmente o fizeram ser o que é: os jogadores, o
torcedor, o povo, o brasileiro comum.
Infelizmente,
estamos longe de uma nova aurora. Mesmo sabendo que o futebol jogado dentro das
quatro linhas é imprevisível, apesar disto o crepúsculo do nosso parece querer
perdurar por mais alguns anos ou ao menos não enxergo um horizonte menos escuro
para o mesmo até a Copa de 2014; pois, infelizmente, nos dias de hoje, o
futebol não se faz mais apenas dentro de campo. Este é apenas a cobertura do
bolo, um detalhe.
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