quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O ELOGIO DA DIFERENÇA.

          Me pergunto, sempre, por que é tão difícil para a maioria das pessoas aceitar e conviver com o diferente, com o que é diverso e divergente. Será porque o diferente nos tira toda a segurança do semelhante, do igual a nós, do parecido, do mesmo, pois se é o mesmo sabemos suas regras, suas tendências, seu comportamento. Será porque o diverso é sempre contestador, afronta nossa semelhança com sua (in)sensatez e problematização, por ser diverso, diverge, divide, divisa. Será que por ser divergente, não é igual, não é previamente conhecido, é estrangeiro, é outro; e se é outro é mil e uma coisas, é relação, é discussão, é afronta e tensão. É tudo, menos o mesmo, o igual, o conhecido. Conviver com o diferente e aceitá-lo é querer estar ao seu lado sem vê-lo como inferior, sem tratá-lo como um desvio, como fora da norma, como fora da curva ou da linha, como uma doença, um cancer. Conviver e aceitar é diferente de apenas respeitar, de tolerar, pois quem apenas respeita e/ou tolera é porque acredita ser bom, educado, civilizado o suficiente para fazê-lo, quem apenas respeita e tolera se acredita superior por essas qualidades, por que é como qualidades que respeito e tolerância são tratados e vistos, acima de tudo, como uma questão de humanidade ou de "classe", como muitos intelectuais gostam de classificar. Mas, aceitar e conviver é muito mais que isso, não são apenas qualidades que se têm ou que se adiquirem, é uma questão de uma estética, de uma ética da existência, de uma arte de viver com os outros e ao lado dos outros, uma arte sem espelhos, que dispensa os espelhos, ou pelo menos, sua face refletida. Aquilo que no espelho remete a nós mesmos, ao mesmo, ao igual. É preciso, portanto, aceitar o outro, conviver com o outro: homossexual, negro, mulher, criança, ateu... Independentemente de como sejam denominados, nomeados, é preciso ser diferente para conviver, aceitar.

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