quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

UM MUNDO FACISTA?

        Estamos ainda na aurora do século XXI, o século que, para muitos, representaria não apenas o alvorecer, mas acima de tudo o período de consolidação da tolerância e do estabelecimento de uma cultura de paz para a humanidade. No entanto, o que mais observamos, em especial no espaço virtual da internet, de forma cada vez mais escancarada e decantada é a emergência ou melhor dizendo o recrudescimento do conservadorismo, do atavismo, do reacionarismo de valores que o mundo moderno julgava ter enterrado para sempre, mas que ao que parece varreu apenas para debaixo do tapete da história e que agora retorna travestido de intelectualismo pequeno burguês, mascarado pela falácia do politicamente correto e autorizado e defendido pelos adoradores da "liberdade de imprensa" - que o diga o Reinaldo Azevedo e o Augusto Nunes, articulistas de VEJA. 
           Este cenário, expresso no mundo virtual, em sua maioria, especialmente nas redes sociais, como por exemplo ofacebook e o twitter e algumas outras, parece apontar para uma perigosa virtualidade de nosso tempo, o retorno veloz e sorrateiro de práticas facistas, de um eu facista que parece se espreitar em cada esquina, que perambula pelas ruas, escolas, avenidas, computadores, celulares e mentes, dando seus golpes, suas estocadas, deixando suas marcas e seus rastros cada vez mais vizíveis - lâmpadas quebradas no rosto de uns: motivo, parecia ou era um gay; massacre em escolas: motivo, vingança contra suposto bullyng (os alvos foram apenas mulheres); atentado classificado de terrorista em país dito civilizado do norte da Europa: motivo, extremista branco de direita tentando fazer limpeza etnica e religiosa contra muçulmanos, aliás estes são apriori sempre os culpados; ataques e brincadeiras nada solidários à pessoa do ex-presidente Lula, não pelo fato da sugestão dele poder se tratar no SUS, mas dos comentários e ataques raivosos a sua pessoa que dai surgiram: suposto motivo, chamar a atenção para a questão da saúde pública no Brasil, uma falácia travestida de uma causa politicamente correta que mal disfarçava o preconceito de classe, de origem e inúmeros outros que ai se imiscuíram, - para que não me acusem de ser pacional demais e relativizando este exemplo, basta apenas cobrarmos um pouco da memória e nos perguntarmos se tal exigência, se tais ataques e comentários foram feitos a respeito do ex-senador, ex-vice presidente da república José Alencar, que ao longo de seus oito anos a frente do cargo pagou e comprou os melhores tratamentos do mundo contra o cancer que enfrentou com tamanha valentia, chegou até a se utilizar de tratamentos ainda em fase de experimentação (o que não faria diferente se estivesse no lugar dele), mas não se escutou uma virgula, de ninguém, ainda mais para soltar a miríade de ataques raivosos e preconceituosos que se tem ouvido desde que se descobriu a doença de Lula; e para finalizar, apenas mais um exemplo dos muitos que poderia continuar citando: os ataques virtuais, televisivos, jornalísticos constantes contra nordestinos, pobres, pretos, favelados etc., basta lembrarmos apenas de Boris Casoy e o episódio dos Garis, o reporter da RBS e o episódio dos "flageládos" que agora podiam comprar carros, os depoimentos na internet desejando a morte e o afogammento de nordestinos etc..., os exemplos são muitos. 
          Enfim, os exemplos são muitos e se multiplicam numa velocidade exponencial. O que até pouco tempo parecia ser apenas casos isolados agora parece se transformar numa prática corriqueira e cotidiana. Estamos observado o estouro de uma manda de práticas facistas bem embaixo de nossos olhos e ficamos apenas contemplativos ao arrombar da porteira, como se isso não nos dissesse respeito, como se não fosse conosco ou como se não implicasse diretamente no nosso dia-a-dia. Escuto quase que cotidianamente de colegas professores que ser homossexual não é normal, porque estes supostamente não fariam parte da criação de Deus, tenho escutado até de alguns colegas que ser homossexual é uma doença - a maior de nossos tempos para alguns. Se dizer ateu ou que não professa uma crença em nosso país é visto como um acinte, quando não como um ato de demencia e aquele que assim se diz - como eu - muitas vezes é visto como um portador de doença grave e contagiosa. Estamos passivos também a uma produção cultural que escracha com nossa infância, que ridiculariza as mulheres, que vulgariza e banaliza o sexo a apenas mais uma prática qualquer, do mesmo nível de trocar uma camisa por outra. Uma produção cultural e midiática que pouco diz ou nada diz - quando não alimenta e reproduz - sobre o facismo destas práticas. 
            Será que não aprendemos com a história? Acho que não. A falta de memória do nosso tempo parece o provar. Mas não custa nada lembrar que aquilo que para a modernidade, no crepúsculo do XIX, seria o cumprimento do seu ideal de progresso e civilização, na alvorada do século XX, descambou para o nazismo e o facismo, num momento da história em que as coisas ainda aconteciam na velocidade dos velhos Fords. Precisamos ficar atentos e combativos, pois o nosso tempo apeou do ford e anda na velocidade dos aviões supersônicos a algumas décadas. Precisamos vencer a corrida contra a vertigem e imediatismo dos acontecimentos de nossos dias, para que eles não nos levem a realidade - por enquanto ela parece ser apenas uma virtualidade, mas não nos esqueçamos, como dizia Deleuze, o virtual tbm é real - de um novo facismo, de novos e renintentes totalitarismos.

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