quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

PARAÍBA: REDUTO DA SELVAGERIA?

             A algumas semanas assisti a uma matéria no Fantástico que me deixou bastante entristecido. Explico. A matéria dizia respeito a uma guerra entre famílias no sertão do Brasil que já havia matado para mais de cem. Mas, o que me deixou entristecido não foi a morte dos mais de cem ou a rixa familiar que causou tantas mortes - não que isso também não seja motivo para se entristecer. Mas, o que me deixou profundamente preocupado foi a reprodução, mais uma vez e sempre, de um determinado enunciado e de determinadas imagens do Nordeste que a algum tempo não encontram mais substrato na realidade da maioria dos Estados da Região. Mas que, volta e meia, a grande mídia torna a veicular e a reproduzir ligando-o e atrelando-o, sobretudo, a um estado em particular, a Paraíba, que parece se constituir para a grande mídia nacional como o último bastião de velhas imagens e discursos que se diziam até a década de 1990 para todo o Nordeste. 
            A Paraíba, ultimamente, só tem aparecido na mídia nacional como reduto da selvageira e da barbárie, da violência inter e intrafamiliar, estado onde o Estado ainda não consegue valer sua prerrogativa de dirimir conflitos sociais. Conflitos estes que, como na matéria veiculada, ainda são resolvidos pela violência mais selvagem, mais primitiva, em nome da honra familiar e masculina, ameaçando até mesmo os próprios agentes do Estado no exercício de suas funções. A Paraíba continua sendo apresentada como um estado sem lei, ou onde esta não de faz valer diante da violência pessoal e privada. A Paraíba resguadaria assim parte daquelas características que a grande mídia está acostumada a veicular sobre a região: a violência, a vingança em nome da honra, a ausência do Estado na resolução de conflitos sociais, a barbárie e a selvageria destas práticas etc. A Paraíba seria ainda este estado encrustado e parado no tempo e no espaço, ainda fora da história, basta ver o termo usado para se referir ao estado na matéria em questão "sertão do Brasil". Um termo que parece remeter a um espaço fora do tempo e fora da história, fora da própria espacialidade geográfica da região.
           Mas, o que mais me incomodou nisto tudo foi a anuência, a aceitação, a adesão das autoridades locais a este enunciado, assim como a própria mídia, tendo em vista que a reportagem parece ter sido produzida e editada por jornalistas locais. O que vimos ontem foi a (re)produção em nível nacional do provincianismo paraibano, provincianismo que é uma das marcas da política local, organizada em torno da mesquinharia de dois grupos políticos rivas, que em grande medida se alimentam e reproduzem este provincianismo para continuar fazendo valer seus interesses privados. Provincianismo este que se exacerba nas vozes e falas da mídia local que parece não enxergar o estado para além de suas fronteiras e do passado em que ela o colocou. Provincianismo que parece vir impedindo ano após ano o estado de se inserir no boom de desenvolvimento econômico que a região vem atravessando ao longo dos últimos anos. 
         O provincianismo político impede por exemplo que os senadores de nosso estado - patéticos e inexpressivos em suas atuações em Brasília - se unam em torno de um projeto de desenvolvimento para a Paraíba. O mesmo vale para os deputados federais, muito mais preocupados com seus redutos eleitorais no estado e em seus interesses particulares, privados diante deste eleitorado em particular do que propriamente com a Paraíba como um todo. Até quando os paraibanos vão continuar se deixando enquadrar e apanhar por estas imagens e práticas? Ou será que vai ser sempre necessário que um turista sem vergonha afronte "o orgulho paraibano" ou que uma historiadora de "renome" chame e nomeie, reproduzindo estas imagens e enunciados, os paraibanos de matutos e ignorantes, para não dizer selvagens, para que nos voltemos contra essas práticas? Até quando?

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